Atenção

Os riscos da depressão no período pós-parto

Casos estão associados ao déficit de desenvolvimento das crianças; alerta integra estudo da UCPel

Jô Folha -

A depressão no período pós-parto está associada ao déficit de desenvolvimento da criança. É um dos principais alertas propagados com o estudo Gravidez cuidada, bebê saudável, realizado pelo Programa de Pós-graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Até o dia 15 de agosto, mulheres com até 24 semanas de gestação, moradoras de um dos 244 setores censitários que integram a pesquisa, podem se candidatar ao acompanhamento.

Dados preliminares levantados durante os dois anos em que já ocorre o estudo demonstram os efeitos positivos da intervenção psicossocial. Os casos de depressão, no período gestacional, caíram 79% entre as mães que tinham recomendação de passar por quatro encontros com psicólogo e aceitaram a medida.

Um outro resultado, ainda parcial, também reforça a efetividade do ensaio clínico: 52% das grávidas que estavam em depressão ou com risco de desenvolvê-la, mas optaram em não receber a terapia proposta pela equipe, acabaram com depressão pós-parto. Um número muito acima da prevalência de 8,4%, registrada até o momento, se somados três grupos: gestantes que estavam em depressão, apresentavam risco - e passaram pela intervenção - e as que não tiveram depressão, mas ainda assim desenvolveram o transtorno no pós-parto.

É algo a comemorar. A prevalência apontada em outras pesquisas realizadas pelo Programa de Saúde e Comportamento, nos últimos anos, tem oscilado entre os 10% e os 14%.

Saiba mais do estudo
►Até agora, 1.064 mulheres participam do estudo, iniciado há dois anos.
►As gestantes são moradoras de 244 setores censitários apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e ►Estatística (IBGE). Os locais equivalem à metade dos setores censitários de Pelotas e englobam diferentes perfis socioeconômicos.
►Para participar, as grávidas devem estar com até 24 semanas de gestação.
Até agora, mais de 120 mulheres já foram tratadas para depressão e cerca de 270 possuíam risco para depressão.
►A pesquisa Gravidez cuidada, bebê saudável tem o financiamento do Ministério da Saúde, do Conselho ►Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.
►A equipe conta com cerca de 60 pessoas: nove professores pesquisadores, dois pós-doutorandos, sete doutorandos, cinco mestrandos, 17 bolsistas de iniciação científica, além de profissionais como enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos contratados para o projeto.

O passo a passo
1) Ao fazer parte do estudo, as grávidas passam por avaliação de saúde mental para verificar se possuem quadro de depressão ou risco de desenvolvê-la. Marcadores biológicos - de sangue e de saliva - são coletados e ajudam na análise. Conforme os resultados, as mulheres recebem indicação de passar por quatro encontros com psicólogo. O atendimento é gratuito.
2) Após o período de 60 dias - e, em parte dos casos, realizadas as sessões de terapia -, as mulheres recebem nova visita e se mantêm em avaliação. E há razão de sobra para os cuidados: gestantes deprimidas têm de três a quatro vezes mais chance de depressão pós-parto.
3) O terceiro momento do acompanhamento se dá aos 90 dias de vida dos bebês. Resultados preliminares, com avaliação de aproximadamente 550 crianças, indicam: aquelas que não foram expostas à depressão de suas mães apresentam melhor desenvolvimento motor.
4) Com a ampliação do estudo, até junho de 2020, os bebês ainda contarão com acompanhamento aos 18 e aos 21 meses. Com um ano e meio, os pequenos receberão técnicas de estimulação precoce. Aos 21 meses, contarão com visita de reavaliação para identificar os resultados das orientações repassadas às famílias.

Fique atento!
A depressão deve ser tratada com muita seriedade, principalmente durante a gestação. Quadros graves estão, inclusive, associados ao risco de parto prematuro.

A gravidez é uma etapa de várias modificações neurobiológicas, neuroendócrinas e neuro-hormonais. É um período em que a mulher está mais sensível em função de aspectos psicológicos e emocionais. Essas transformações, entretanto, não precisam ser sinônimo de depressão. “O que faz depressão são histórias pregressas, traumas na infância, exposição à violência e falta de suporte social”, enfatiza o coordenador geral da pesquisa, o psiquiatra Ricardo Pinheiro.

A depressão durante a gravidez e no pós-parto possui características melancólicas clássicas, como humor deprimido, fadiga intensa, perda de apetite e alterações do sono.

Olhar ao futuro
A expectativa é de que os resultados da pesquisa ajudem a embasar mudanças nos protocolos de pré-natal no Brasil e se tornem política pública. Ao menos é a intenção dos pesquisadores.

Ao conversar com o Diário Popular, o médico Ricardo Pinheiro defende a importância de transtornos de ansiedade e da depressão, por exemplo, passarem a compor a triagem do pré-natal. Daí a relevância, portanto, dos biomarcadores hormonais e genéticos.

“Se conseguirmos detectar quais fatores sociais e biológicos que, integrados, podem indicar se a mulher vai desenvolver depressão na gestação e no pós-parto, poderemos adotar medidas de prevenção”, destaca o doutor em Ciências Médicas. E reforça: a depressão pode afetar o desenvolvimento da criança. Daí a máxima: Gravidez cuidada, bebê saudável.

A importância de sentir-se orientada
A jovem Ive Lopes, 28, é uma das mamães que integra o estudo. E admite: “É muito importante este tipo de avaliação. Às vezes, a pessoa não tem a percepção de que tá precisando de atendimento. Não percebe que tá precisando de apoio”, afirma. E lembra que a confirmação da gravidez chegou em momento de pressão, quando cumpria o último semestre do curso de Psicologia e já realizava terapia.

Agora, formada e aliviada, Ive divide-se nos cuidados dos dois filhos: Pedro, de três anos, e Joaquim, de três meses. Hoje, com 6,5 quilos e 53 centímetros, o caçula responde bem aos estímulos, que passam por avaliação cognitiva, motora e de linguagem. Daí a razão de os testes serem realizados na própria UCPel, para seguirem o rigor científico de observação e de comparação.

Entre em contato: telefones - (53) 2128-8246 e 99123-7350

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